domingo, 3 de abril de 2016

Subiu para o mini autocarro ajudada pela mãe. Em lágrimas e perguntando porque o papá ficava, queria que o pai também viesse com eles. A mãe tentava acalmá-la com palavras doces, sussurradas ao seu ouvido, mas ela via o pai no varanda do aeroporto, e só chorava e dizia que queria o papá. O irmão, pouco mais velho, tentava entusiasmá-la com o facto que ia andar de avião, ele já tinha andado, mas para ela, era a primeira vez. Mas nada a acalmava. Do choro desesperado, passou aos soluços e acabou por adormecer, já no seu lugar, no avião, para alívio da mãe e dos outros passageiros, que de certo modo se sentiam como aquela menina, desesperados, deixavam tudo para trás...
Lembra-se de de lhe terem dito que lá em baixo era Casablanca, ela só viu nuvens brancas.
Quando chegaram ao destino, carregava nos braços uma boneca pouco mais pequena que ela e um cestinho plástico, verde, com as suas loicinhas, respondendo com modos agressivos a quem se metia com ela, por causa do semblante triste e amuado, ou por causa da boneca. 
Em casa dos familiares, escondeu-se debaixo de uma mesa, assustada, não percebia aquela alegria com risos histéricos e lágrimas grossas a correr pelas faces.
Ainda hoje não gosta de falar nesses dias e o marido abraça-a e diz-lhe que tudo vai passar... Sim, passaram 41 anos...  


D.

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